segunda-feira, 29 de maio de 2023

SUCCESSION series final


Porque ainda muita gente não viu e não quero escrever spoilers em redes sociais, vou partilhar aqui o que achei do final. Programei o meu fim-de-semana para ver Succession logo que acordasse e quero pôr ideias em ordem. Primeiro começo por partilhar alguns takes que achei super interessantes:













Esta série não é sobre Sucessão. É sobre trauma geracional e este final mostra na perfeição de que forma os irmãos foram impactados por isso. No final, eles preferem perder o poder desde que não seja outro a consegui-lo. Ganhar a sucessão era como conseguir o afecto do pai, ser o escolhido para substituir uma pessoa cujo amor e aprovação tentaram ganhar a vida toda. O ego deles não permitiria que um dos irmãos o tivesse. Sempre disse que não gostava que fosse um deles a consegui-lo. Fez-me muito sentido que fosse Tom, embora ache que o papel dele é meramente decorativo, como o prórpio Mattson faz questão de se assegurar. Ele é  "a serious people". Demonstrou ser um bom profissional, trocou a Shiv pelo pai dela no final. A própria Shiv apoiava desde o primeiro episódio a hipótese de o Tom ser CEO (até o pai a aliciar com a hipótese de ser ela). Não acho que a Shiv tenha votado NÃO para ser mulher do ceo ou para ajudar o filho que está na barriga. Acho que é mais egoísta do que isso. Este foi o mal menor. E se calhar até ajudou um pouco o Tom ao falar dele ao Mattson, e ajudou-se a si própria, uma vez que via o amor de Tom fugir. Eu não sei se a Shiv gosta do Tom, mas sei que procura relações como a que tinha com o pai. Desequilibradas. E o Tom parece ter desistido da Shiv desde o dia da varanda em que lhe ofereceu o escorpião. (Acertou, mas a mordida foi para Kendall.) Foi aí que alguma coisa mudou na dinâmica deles. A cena final no carro é brilhante. É um anti-climax, parece quase anti-feminista. A mulher poderosa que Shiv sempre aspirou ser num papel submisso. Mas conhecendo os personagens, sabemos que Shiv pensou nela apenas e que o Tom é descartável a qualquer momento. Acho que ela acredita que o vai continuar a manipular. Afinal, it's a Shiv world e manipular toda a gente à sua volta sempre foi o normal, é a descendente mais fria de Logan. Muita gente escreveu que a Shiv se transformou na própria mãe, mulher do CEO, mas eu quero acreditar que é mais do que isso. E apesar de ser um mundo de homens, em que nasce logo em desvantagem, a Shiv é a mais inteligente dos irmãos e fez o que achou melhor para ela.

Adorei as cenas em Barbados, gostei sempre quando saíam de NY.  A dinâmica entre os irmãos é sempre bonita de ver. Fazem-nos esquecer de todas as lutas, todas as mentiras. São apenas três irmãos com tudo o que isso implica. Partiu-me o coração a cena em que os três vêem o vídeo do jantar virtual e do pai que nunca conheceram tão divertido. O pai que nunca tiveram. O único que teve foi Connor, aquele que nunca lutou pelo poder e de quem o pai nunca esperou nada. Como o Roman diz no final, após a cena em que gritam uns com os outros como se fossem crianças: we are bullshit. Nunca nenhum deles esteve à altura do cargo e o pai sabia disso.


Acredito que isto foi o melhor que podia ter acontecido a qualquer um deles. O Roman pareceu aliviado, quase feliz. Aquele sorriso enquanto pede uma bebida numa bar, finalmente o pesadelo acabou. Só lhe falta a Gerri ao lado. O Kendall entra em estado catatónico, a ponto de achar que a vida dele acabou, mas isto talvez seja a salvação dele. A hipótese de ser uma pessoa decente. O poder engole-o e isso vê-se mal entram na empresa. Quando ele se senta na cadeira do pai e põe os pés em cima da mesa, os irmãos percebem logo que não conseguem viver com Ken como rei. A Karolina avisa Shiv do Hugo, talvez aí perceba ainda melhor os esquemas de Ken. Ele não é uma pessoa séria e esteve sempre a esquematizar contra os irmãos. Não sei se há uma parte de Shiv que é honesta quando diz que ele não é bom para a empresa nem para o mundo. Que ela o está a salvar. Mas é a verdade. A Shiv salva todos com a decisão de não deixar o Kendall cego de poder a tomar conta da empresa. Salva Roman de continuar preso a uma coisa que o faz sofrer tanto. O Kendall ia ser abusivo para ele como o pai foi, como se vê na cena em que lhe abre a cicatriz. Este foi o melhor final possível. Ninguém ganhou. É verosímil. Ainda teve piada pela dinâmica Tom e Greg e o queijo do Peter. Estou satisfeita. Talvez agora consigam ser pessoas sérias, quem sabe um pouco mais felizes. Estou cliente de spin-offs.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Let the Games Begin - Melhor Actriz 2021

Num ano pobre em filmes, a corrida mais rica é a das mulheres (finalmente). 2020 foi um ano com excelentes desempenhos masculinos, Phoenix, Banderas, Di Caprio, Egerton - seria justa a vitória de qualquer um destes - e ainda Pryce, Drive, De Niro e Sandler.

Devido à pandemia, este ano temos filmes independentes e filmes produzidos por streamings, a maioria deles intimistas na sua natureza, pequenas produções. Aliado ao movimento social iniciado no ano passado, isto poe o foco nas mulheres, não só a realizar como nos desempenhos.

Há nomes que são apontados como certos ou cabeças de cartaz, como Frances McDormand em Nomandland, Vanessa Kirby em Pieces of a Woman, Viola Davis em Ma Raineys, Carey Mulligan em Promising Young Woman e Winslet em Ammonite. Todos estes filmes são praticamente arrastados pela actriz principal e apesar de serem bons, nenhum causou o deslumbre que eu esperava. Ou porque já vimos as actrizes a fazer parecido ou melhor (McDormand, Davis, Winslet) ou porque os filmes não são suficientemente fortes para sustentar uma vitória (Kirby, Mulligan). Basta lembrar da derrota de Glenn Close em 2019 com The Wife - sim, ainda dói.

Daí acreditar que ainda há muitos nomes para pôr em cima da mesa, nomes que talvez num ano normal fossem ignorados. Ainda não vi Malcolm x Marie, mas o nome de Zendaya surge imediatamente. Segue a narrativa de princesinha de Hollywood, como Jennifer Lawrence e outras, que a academia adora.

Carrie Coon com The Nest ou Jessie Buckley em I'm Thinking of Ending Things são actrizes com provas dadas e pouco reconhecimento. Elisabeth Moss pode finalmente quebrar o preconceito do género horror com Invisible Man, fazendo justiça a Nyong'o em Us, Forence Pugh em Midsommar e Tony Colette em Hereditary.

Finalmente os indies: Sidney Flanigan com Never Rarely Sometimes Always - o melhor filme que vi em 2020, Yeri Han por Minari, filme injustamente remetido para internacional - e Nicole Beharie, que ganhou o Gotham Award, por Miss Juneteenth. Por último, Amy Adams por Hillbilly Elegy, a bofetada de luva branca da Academia aos críticos (e ao Twitter). Afinal, quem é que manda em Hollywood?

Admitindo que aqui faltam nomes, fico desde já a torcer para que ganhe uma história simples. Prefiro sempre as histórias simples contadas de forma fantástica do que o contrário. Parasite fez história há um ano, continuemos. Nem tudo pode ser retrocesso no mundo e a arte é esperança e deve ser uma ferramenta de evolução.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

1 de Setembro

Durante alguns anos fiz companhia à minha mãe numa semana ou duas de termas em Mondariz. Como eu tinha vários problemas respiratórios, ia fazer os tratamentos, bebia as águas sulfurosas, que remédio, e tinha o mimo todo só para mim. Em Mondariz tinha existido um Gran Hotel que recebia a nobreza Europeia a águas e que tinha sido vítima de um incêndio em 1973. A primeira água do dia era no local do Gran Hotel, agora recuperado, mas nessa altura ainda estava lá a autópsia do desastre: paredes queimadas, um pântano no local onde era a piscina e uma floresta em vez de jardim. Como tínhamos de esperar 15 minutos entre cada copo (eram três), eu e a minha mãe passeávamos por ali. Eu tinha recebido um livro de imagens antigas do hotel e nesses passeios, entre o medo e o entusiasmo do desconhecido, eu tentava imaginar o que tinha sido vivido ali. Eu ainda não sabia, mas aqueles passeios e aquelas semanas em Mondariz seriam os meus primeiros retiros e as minhas primeiras meditações. Decidi assim, no ano de 1997, que dia 1 de Setembro seria o ano em que eu faria o balanço anual da minha ainda curta vida. Os anos passaram e dia 1 de Setembro manteve-se com essa conotação de reflexão e recomeço. Julgo que para muitos funcionará assim também. Que seja um bom Setembro para todos. Que seja um bom início. Estejam atentos ao que vos envolve, nada é tão importante como o que vive em nós.



quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Domínio Vale Flor

 O DONO DO SÍTIO ONDE FICAMOS ESTE DIAS CHAMA-SE DANIEL. UM SUL-AFRICANO COM CARREIRA DE DIPLOMATA EM LONDRES QUE UM DIA VIU UM LAND ROVER NUMA MEDITAÇÃO. PERCEBEU QUE NÃO ERA DO CARRO QUE PRECISAVA E SIM DO QUE PODERIA FAZER COM ELE. VÁRIOS SINAIS LHE GRITAVAM PORTUGAL E CONVENCEU A MULHER HOLANDESA E OS TRÊS FILHOS PEQUENOS. FICOU ALGUM TEMPO EM CASCAIS MAS RAPIDAMENTE ENCONTROU ESTE BOCADO DE TERRA NO RIBATEJO QUE DIZ QUE É "A SUA ÂNCORA". APRENDEU CARPINTARIA, APROVEITOU O QUE JÁ EXISTIA E EXPANDIU. A MULHER COZINHA TODAS AS REFEIÇÕES CUIDADAS E DETALHISTAS, TRATA DO TURISMO E FAZ CURADORIA DE ARTESANATO PROVENIENTE DE TODO MUNDO. OS FILHOS, EDUCADÍSSIMOS, AJUDAM EM TUDO. 

O DANIEL CONTOU-NOS A HISTÓRIA DE UM FRANGO MUITO PEQUENO QUE ANDA NO JARDIM. CHAMA-LHE SOZINHO PORQUE NÃO GOSTA DE ESTAR COM OUTROS. NÃO SABE SE É GALO OU GALINHA PORQUE NUNCA CRESCEU, DESCONFIA QUE SEJA ANÃO. MAS ELE É FELIZ, DISSE-ME, SORRINDO. O SOZINHO É FELIZ. TEM TUDO O QUE PRECISA. 

ÀS VEZES APRENDEMOS MUITO SEM CONTAR. OS MEUS AVÓS ERAM AGRICULTORES E CRIADORES DE GADO E ESTA RURALIDADE É GLAMORIZADA, MESMO COM OS RATOS, AS ARANHAS E A AUSÊNCIA DE LUXOS COMO WIFI. APRENDEMOS COM AS PESSOAS. QUE COM A SUA SIMPATIA E HUMILDADE E SORRISO SEMPRE PRESENTE NOS ENSINAM A VIVER LEVEMENTE E DEVAGAR. QUE PODEMOS MUDAR, BASTA QUERER. "NO STRESS" OUVI MUITAS VEZES NOS ÚLTIMOS 5 DIAS. NO STRESS THEN.



sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Marriage Story


  • Marriage story não é o filme que eu esperava que fosse. Na minha cabeça imaginei algo entre Kramer vs. Kramer e Closer e acabou por ser algo mais leve, mais Woody Allenish, mais trilogia dos Befores de Linklater, à mesma triste. É sempre triste quando uma família se separa e apesar de ser fácil tomar uma posição eu dei por mim apenas como observadora, sem sentir identificação com nenhuma das personagens, como uma peça de teatro vista com alguma distância. E assim não me destruí emocionalmente como outros filmes já fizeram este ano e eu esperava quw este fizesse também. Isso não é mau necessariamente, é apwnas diferente. Scarlett Johansson tem um grande desempenho, ainda que não o melhor de sempre, e Adam Driver sim destaca-se no papel da sua carreira. Laura Dern é uma das minhas actrizes favoritas e gosto sempre muito de a ver, apesar de o papel me parecer muito idêntico ao de Renata em BLL.  Quem é fã dos indies que ano após ano deixam a sua marca de diferença no meio de histórias mais convencionais irá gostar muito deste filme. Quem espera um dramalhão familiar talvez saia um pouco desapontado. Eu gostei muito. 8/10

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

The Farewell


Depois de Shoplifters, é impossível não fazer a comparação a estes filmes orientais recentes que têm a família como tema nuclear. E apesar de não deslumbrar como o primeiro, é um filme enternecedor e leve sobre um tema tão pesado como a morte. Acho que temos muito a aprender com os orientais e estes filmes são um ponto de ligação importante sobre um mundo que pouco ou nada entendemos. E depois digam-me? Quem não quer uma avó Nai Nai na vida? 7,5

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Errar para viver

Os erros fazem parte da vida. Tal como outra coisa qualquer. Há erros que vivem connosco durante muito tempo, que nos fazem compainha ao deitar e ao acordar. Às vezes despertam-nos mesmo a meio da noite. Há erros que são o nosso amigo imaginário durante anos e anos e apesar de invisíveis não são minimamente silenciosos. O meu pior erro foi deixar que algum erro definisse a minha vida. Hoje olho para os erros como lições. Às vezes demora algum tempo até que consiga ver o lado bom do meu erro, porque todo o erro não duvidem, tem um lado bom. Isto não me irresponsabiliza do meu erro. Eu sou e devo ser totalmente responsável pela minha vida. Mas os meus erros não definem quem eu sou, pelo contrário, os meus erros ajudam-me a crescer, fazem-me mais forte, mais sábia e mais tranquila. Se vou continuar a cometer erros? Claro, é um erro enorme pensar o contrário. Tal como comecei por dizer fazem parte da vida como outra coisa qualquer. Não deixem que os vossos erros vos destruam. Mas também não os silenciem. Ouçam-nos com toda atenção, e quando for possível, arquivem-nos com carinho, como um postal que alguém vos escreveu e que de vez em quando gostam de reler, não para relembrar a dor da ausência, mas para relembrar o amor. Errar é vida e vida é amor. Ouçam-no e perguntem-lhe como vos serviu naquele nomento, porque todos os erros nos servem de alguma forma, por isso os cometemos. Sejam responsáveis, reconheçam quem são, abracem-se, mas não deixam que um único momento das vossas vidas os defina. Não se arrependam do que fizeram, ou arrependam mas responsabilizem-se e aprendam com isso. É a única forma possível de viver, caso contrário é sobreviver.

sábado, 12 de outubro de 2019

Parasite


Parasite ganhou Cannes e está a receber aclamação mundial como um dos melhores filmes de sempre. Teve a estreia mais bem sucedida da história americana por um filme de língua estrangeira este fim de semana. É de facto um filme original e muito bem conseguido na crítica social que faz mas não é o tipo de filme que me chegue ao coração. Lembrou-me de Get Out, outro bom filme com o qual não me consigo entusiasmar. Recordo-me de repente de Shoplifters que de alguma forma tem um tema similar e que me emocionou enormemente. Mas caramba, o feliz que fico de ver americanos e não só a falar assim de um filme sul coreano. Depois da reacção ao Joker este é o sinal que ainda devemos manter a esperança no estado da arte e do politicamente incorrecto. 7,5

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Dolor Y Gloria



Vi Dolor y Gloria, o último filme de Almodovar, baseado em factos auto-biográficos como vários na sua carreira, com a diferença que este trata da vida de um cineasta espanhol, carreira internacional, crise de meia idade e um coração cheio de dor. Tal como me aconteceu noutros filmes seus, passado 10 minutos já não o queria ver, incomoda, no entanto sabia que tinha de o fazer. E ainda bem. Porque no título a dor está acompanhado da glória. Filmes como este são aqueles que eu considero como cine-terapia, e Almodovar, fale de que tema fale consegue me sempre ir ao mais profundo que tenho.
A nível cinematográfico não me encheu as medidas como Habla com Ella, Mala Educacion ou Julieta, mas para mim revisitar o seu imaginário será sempre como andar de bicicleta. De imediato voltam e se instalam as cores, os diálogos, o humor requintado, a solidão, a dor e a glória, a tão importante glória. Se eu tivesse que definir o género melodrama em duas palavras seria assim: Pedro Almodovar.

(Antonio Banderas ❤)

8

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Joker


Desagrada-me quando um filme tem muito hype porque invariavelmente acabo por sair desapontada. Não foi o caso aqui. Batman é o meu super herói favorito porque ele não tem super poderes, é igual a cada um de nós, mas usa das suas valências para combater o crime. Este não é um filme de super heróis, mas foi o retrato de Gotham City que mais gostei de ver até hoje, talvez por ser tão assustadoramente fiel a Planeta Terra 2019. Talvez seja isso que leva algumas pessoas a alarmarem-se com esta narrativa. É uma metáfora/ crítica social muito bem escrita. Mas enquanto alguns vêem um filme sobre loucura e violência, eu vejo um filme sobre a empatia, ou sobre a falta dela e de como devemos nos pôr mais nos sapatos dos outros, nem que esses sejam sapatos de palhaço. É um filme perturbador, com momentos que me deixaram extremamente desconfortável, de uma forma que apenas pode acontecer num bom filme, mas ao mesmo tempo um filme muito bonito. Tristemente bonito. Vejam por vocês, vale a pena o murro no estômago. 
Finalmente Joaquin Phoenix. Tenho algumas dúvidas que o filme consiga arrancar muitos galardões em Hollywood, mas Phoenix tem aqui o papel da carreira dele e sem ter visto os outros desempenhos aposto já o meu dinheiro nele. Foi das melhores construções de personagem que vi numa longa metragem (créditos para Todd Phillips) e a entrega de Phoenix ao Joker dele é arrepiante. Convenceu-me em cada gota suor do seu rosto, em cada esgar da sua gargalhada descontrolada ou no olhar perdido de quem não se pretende encontrar. Heath Ledger, onde estiver, estará orgulhoso. 9